terça-feira, março 15, 2011

Angústia


De noite, custo a pegar no sono, pois minha mente não pára, meu corpo não aquieta, meu espírito não silencia. Imagino-me andando sobre nuvens. Diante de mim, um imenso arquivo de madeira com gavetas abertas e, em cada gaveta, uma etiqueta com a inscrição de um objeto de minhas preocupações e ansiedades, sonhos, responsabilidades e amores. Há uma gaveta para meu pai, minha mãe, minha escola, meus amigos, meu futuro, e o paradoxo do mundo estão distribuídos em gavetas que percorro lentamente até mergulhar no sono. Meu único esforço é o de fechar cuidadosamente cada gaveta, num gesto de gratidão, devoção e consagração: fechar a gaveta é entregar seu cuidado às mãos de Deus.
Assim oro todas as noites. Assim vou diminuindo a cadência do coração e descansando a alma. E durmo sem saber quais gavetas ficaram por fechar. Mas a cada manhã, com o sol, também se levanta minha alma. E com ela suas angústias. E, sobretudo, a misericórdia e a bondade de Deus, que me seguem todos os dias da vida. A alma angustiada põe o pé na estrada e retoma seu caminho até deitar-se novamente na noite seguinte, com o coração batendo acelerado, a mente rodando em velocidade incalculável e o esboço do próximo dia rabiscado na tela da madrugada. Lá estão todas as gavetas abertas novamente. E lá vou a fechar uma por uma, de novo e mais uma vez, até que as luzes se apagam. Todo dia, toda noite. Tudo jamais igual.

Deus os abençoe!

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